Festas de fim de ano: quando o ambiente festivo pode se tornar um território de risco emocional e físico para crianças
Para Telma Abrahão, neurocientista e especialista em desenvolvimento infantil, as datas comemorativas exigem atenção redobrada dos adultos para garantir proteção, segurança emocional e prevenção de abusos
Reprodução internet
As festas de fim de ano são tradicionalmente associadas à celebração, encontros familiares e alegria. No entanto, para muitas crianças, esse período também pode representar um aumento significativo de riscos emocionais e físicos, especialmente em ambientes com excesso de adultos, consumo de álcool, quebra de rotinas e diminuição da supervisão.
Para a neurocientista e especialista em desenvolvimento infantil, Telma Abrahão, o que é entendido como diversão para os adultos nem sempre é percebido da mesma forma pelas crianças. “O que para um adulto é uma festa, para uma criança pode ser um ambiente confuso, invasivo e até assustador. O cérebro infantil ainda está em desenvolvimento e precisa de previsibilidade, proteção e da presença atenta de adultos para se sentir seguro”, afirma.
Durante confraternizações, é comum que limites sejam flexibilizados: crianças circulam livremente entre adultos, dormem em locais improvisados, são expostas a conversas inadequadas ou forçadas a interações físicas que não desejam, como beijos e abraços. “Quando a criança não tem seus limites respeitados, ela aprende que o desconforto deve ser ignorado para agradar o outro, e isso é um fator de risco importante”, alerta Telma.
Além da segurança física, há impactos emocionais muitas vezes invisíveis. Comentários depreciativos, comparações, humilhações públicas, exposição de segredos familiares ou invalidação de sentimentos podem marcar profundamente o desenvolvimento emocional da criança. “A ciência já mostra que experiências repetidas de desproteção e vergonha na infância alteram a forma como o cérebro responde ao estresse”, explica a especialista.
Outro ponto de alerta é a ideia equivocada de que “a criança não entende” ou “não vai lembrar”. Segundo Telma Abrahão, mesmo quando não há memória consciente, o corpo registra. “O cérebro infantil guarda essas experiências de forma emocional e sensorial, e isso pode impactar comportamentos, vínculos e a saúde mental na vida adulta”, destaca.
Diante desse cenário, especialistas reforçam algumas recomendações essenciais para o período: Garantir supervisão ativa e contínua das crianças, mesmo em ambientes familiares; Respeitar limites físicos e emocionais, sem forçar interações; Observar mudanças de comportamento, sinais de desconforto ou retraimento; Evitar consumo excessivo de álcool quando há crianças sob responsabilidade; Criar espaços seguros para descanso e regulação emocional; Levar a sério qualquer relato infantil, sem minimizar.
Proteger crianças não é exagero, é responsabilidade. Festas não podem ser prioridade maior do que a segurança e o bem-estar infantil. “Um ambiente verdadeiramente festivo é aquele onde a criança se sente segura, respeitada e cuidada”, reforça Telma Abrahão.
Neste fim de ano, o convite é claro: celebrar também é proteger. Porque, para uma criança, sentir-se segura hoje pode significar uma vida emocionalmente mais saudável amanhã.
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